O Educador cansado não ensina o que Sabe — Ensina o que está a Sentir.

Há uma verdade silenciosa que paira sobre muitas salas de aula, jardins de infância e reuniões pedagógicas: muitos educadores estão exaustos. Cansados não apenas fisicamente, mas emocional e mentalmente. E esse cansaço tem consequências — não só para quem o carrega, mas também para quem aprende.

Quando um educador entra numa sala sem presença, sem margem para escuta, sem energia para o encontro, o que está a ensinar não é apenas o conteúdo do plano anual. Está, ainda que involuntariamente, a ensinar pressa, desconexão, resistência emocional.

"O segredo da mudança é concentrar toda a sua energia, não em lutar contra o velho, mas em construir o novo." – Sócrates

O que ensinamos sem palavras

Educar é mais do que transmitir conteúdos. É, sobretudo, um ato de presença. E a nossa presença — ou ausência — é sentida por quem nos rodeia. As crianças e jovens captam os nossos silêncios, a tensão dos nossos gestos, o desespero escondido por detrás da planificação perfeita.

Num sistema que valoriza resultados mensuráveis e métricas externas, esquecemo-nos de perguntar: Como está o corpo e a mente de quem educa?
O educador cansado ensina o que sente: insegurança, frustração, desânimo. E essa transmissão emocional silenciosa tem impacto real.

Cuidar de si para cuidar do outro

No centro do meu trabalho — e da minha proposta metodológica — está a premissa de que o autocuidado não é um luxo, é uma responsabilidade profissional. Cuidar de si não é egoísmo. É a única forma de garantir que se pode estar inteiro com o outro.

Falo muitas vezes sobre os quatro pilares que sustentam o meu método: Consciência, Comunicação, Organização e Liderança.
E é precisamente a partir da consciência que nasce o espaço interno necessário para reconhecer limites, identificar padrões de exaustão e criar práticas de autocuidado viáveis.

Algumas perguntas para começar

Se te sentes sobrecarregado ou em piloto automático, começa por te perguntar:

  • O que é que o meu corpo está a tentar dizer-me há semanas e eu ainda não parei para ouvir?

  • Que práticas simples me fazem sentir mais presente e nutrida(o)?

  • De que forma estou a normalizar o esgotamento como “parte do trabalho”?

Autocuidado não tem de ser mais uma tarefa na lista. Pode começar por dizer um "não" com amor, por te permitires um momento de silêncio antes de entrar numa sala cheia ou por pedir ajuda sem culpa.

Photo by madison lavern on Unsplash

Uma educação com amor e consciência começa por ti

Este texto não é um apelo à perfeição, mas sim à humanização de quem educa. Se queremos transformar a educação, precisamos de transformar a forma como cuidamos de quem está na linha da frente: os educadores, os professores, os pais, os agentes educativos. Porque não é possível educar com amor se estivermos desconectados de nós próprios.
E é só através da consciência e do cuidado que conseguimos, verdadeiramente, ensinar o que sabemos… e não apenas o que sentimos quando estamos no limite.

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Quando o propósito se torna cuidado e presença na prática educativa.

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Do Controlo à Cocriação