Quando o tempo se encontra: um diálogo entre gerações na educação

Há momentos em que a facilitação nos oferece imagens que ficam gravadas — não apenas na memória, mas no coração coletivo que se cria num grupo.
Durante o workshop “Estratégias de Autocuidado para Educadoras”, vivi um desses momentos que revelam o verdadeiro poder do encontro humano.

Entre as várias dinâmicas que conduzi, houve uma que convidava as participantes a olhar de frente para as diferentes gerações de educadoras. O convite era simples e, ao mesmo tempo, profundo: reconhecer o percurso, as experiências, os valores e as marcas do tempo em cada uma de nós. Não para comparar, mas para compreender. Não para medir trajetórias, mas para honrar o que cada geração traz.

Num determinado instante, o grupo ficou em silêncio.
De um lado, uma educadora com 63 anos, guardando em si décadas de entrega, resiliência e sabedoria acumulada. Do outro, uma educadora de 27 anos, no início do caminho, cheia de vontade, ideias e perguntas. Quando os seus olhares se cruzaram, algo aconteceu — um reconhecimento mútuo, sem palavras, mas repleto de sentido. As expressões mudaram, as lágrimas surgiram, e o grupo inteiro se comoveu.

Foi um instante breve, mas carregado de simbolismo.
Ali, entre o olhar maduro que já viveu tantas mudanças e o olhar novo que se abre ao que está por vir, manifestou-se a essência da educação: um espaço onde o tempo não separa, une.

A emoção que percorreu a sala não veio do acaso.
Veio da escuta profunda, da disponibilidade para ver o outro e de uma rara consciência coletiva de que educar é um ato de continuidade.
A experiência de quem já caminhou e a curiosidade de quem começa são fios da mesma teia — uma teia onde o conhecimento se renova e o sentido se perpetua.

Facilitar esse momento foi lembrar que as gerações de educadoras não se sucedem, entrelaçam-se.
Cada uma carrega algo essencial que a outra precisa: a experiência e a esperança, a prudência e a ousadia, o passado que ensina e o futuro que inspira.
Quando criamos espaço para esse diálogo, abrimos caminho para uma educação mais humana, mais consciente e mais generosa consigo mesma.

Dinâmica: Linha geracional

Este encontro entre gerações tocou-me.
Recordou-me que o autocuidado, no contexto educativo, vai muito além das práticas individuais. É também reconhecer o nosso lugar numa história maior — cuidar da memória do que foi construído, valorizar quem veio antes e apoiar quem está a chegar.

O verdadeiro autocuidado começa quando deixamos de nos ver isoladas e passamos a reconhecer-nos como parte de uma continuidade viva. Porque cuidar de si é também honrar quem nos antecedeu e preparar o terreno para quem virá depois.

E talvez seja isso o mais belo neste ofício de educar: saber que o nosso tempo é apenas um capítulo de uma narrativa maior — e que, em cada encontro, há sempre uma oportunidade de partilhar, aprender e recomeçar.

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Relembrar o que é Ser e Estar na Educação