A educação precisa de Amor — e isso não é romantização

Falar de Amor na educação continua a causar desconforto. Para muitos, a palavra soa vaga, ingénua ou pouco profissional. No discurso educativo dominante, o Amor é frequentemente empurrado para o campo do “emocional”, do “pessoal” ou do “privado”, como se não tivesse lugar nas decisões pedagógicas, nas políticas educativas ou na organização das escolas.

Mas porque é que o Amor ainda é visto como fraqueza?

Talvez porque foi, durante demasiado tempo, confundido com permissividade, falta de rigor ou ausência de limites. Ou porque a educação foi sendo progressivamente capturada por uma lógica de desempenho, controlo e resultados mensuráveis, onde tudo o que não cabe numa grelha de avaliação é considerado irrelevante.

No entanto, educar nunca foi — nem será — um ato neutro.

A relação educativa é, por natureza, relacional, humana e ética. Envolve presença, escuta, reconhecimento e responsabilidade. E tudo isto exige Amor. Não um Amor romântico ou idealizado, mas um Amor consciente: aquele que vê o outro como legítimo, digno e capaz de aprender; aquele que estabelece limites com clareza; aquele que cuida sem infantilizar e orienta sem dominar.

Do ponto de vista da Consciência, falar de Amor na educação é assumir que cada educador leva consigo a sua história, os seus valores, os seus medos e as suas crenças. É reconhecer que a forma como se comunica, organiza e lidera um grupo tem impacto direto no desenvolvimento emocional das crianças e jovens. Ignorar esta dimensão não torna a prática mais profissional — torna-a apenas menos honesta.

Já a Comunicação, quando atravessada pelo Amor, deixa de ser meramente funcional. Passa a ser intencional. A palavra não serve apenas para transmitir conteúdos ou corrigir comportamentos, mas para criar vínculo, segurança e sentido. Uma comunicação sem Amor pode ser eficiente, mas dificilmente será transformadora.

Curiosamente, os sistemas educativos mais rígidos tendem a exigir dos educadores um controlo emocional constante, como se sentir fosse um risco e não sentir fosse uma virtude. O resultado é um afastamento progressivo da dimensão humana da educação e um aumento da exaustão, do cinismo e da desconexão.

Não é o Amor que fragiliza a educação. É a sua ausência.

Quando o Amor é retirado do centro da prática educativa, surgem relações baseadas no medo, na obediência cega ou na indiferença. E nenhuma destas gera aprendizagem profunda. A neurociência, a psicologia do desenvolvimento e a pedagogia contemporânea são claras: aprende-se melhor em contextos de segurança emocional, pertença e confiança, um consenso amplamente sustentado por investigação recente sobre aprendizagem e desenvolvimento humano.

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Recolocar o Amor no discurso educativo não é um retrocesso. É um avanço civilizacional.

Educar com Amor e Consciência é um posicionamento ético e político. É afirmar que formar pessoas vai além de cumprir programas. É escolher uma educação que integra razão e emoção, exigência e cuidado, estrutura e humanidade.

Talvez esteja na altura de perguntarmos:
que tipo de educação estamos a defender quando o Amor ainda nos parece excessivo?

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