Embora a minha marca tenha tido um foco claro na educação de infância — porque acredito profundamente que é na base que se constrói uma sociedade mais consciente —, ela destina-se a todas as pessoas que educam, formam ou facilitam processos de aprendizagem, em contextos educativos e também profissionais.

A minha experiência mostra-me, todos os dias, que o bem-estar de quem educa está diretamente ligado à qualidade das relações que se constroem em qualquer contexto de aprendizagem — da creche à universidade, da formação contínua ao ensino informal.

Na primeira infância, os impactos são especialmente sensíveis. O relatório da OCDE – Starting Strong VI: Supporting Meaningful Interactions in Early Childhood Education and Care (2020) destaca que educadores equilibrados emocionalmente estão mais aptos a promover interações de qualidade, o que se traduz em melhores resultados no desenvolvimento global das crianças.
Mas essa verdade não se aplica só aos mais pequenos: aplica-se a todos os contextos onde alguém se coloca ao serviço do outro, através da educação.

Nos últimos tempos, tenho escutado partilhas intensas, vindas sobretudo de quem trabalha com adultos. Um desabafo recente ficou comigo:

“Estou exausta. O que mais me cansa é a desesperança. Sinto que estou sempre a remar contra a maré. As pessoas escolhem estar presentes, mas não assumem o compromisso. Está tudo a competir com tudo. As prioridades parecem todas trocadas. E eu… não posso salvar ninguém.”

Photo by Matheus Farias on Unsplash

Este tipo de cansaço não nasce da tarefa, mas da incoerência entre a intenção e a presença, entre o que se diz querer e o que realmente se está disponível para viver.

Num tempo de excesso — de informação, de estímulos, de urgências —, aprender exige mais do que curiosidade. Exige intenção. Exige escolha. Exige compromisso.

E para quem educa, isso pode ser profundamente desgastante. Porque muitas vezes, na ausência de um compromisso claro do outro, surge a tentação de dar ainda mais de si — até ao limite.

Mas educar com Amor e Consciência não é isso.

Não é salvar.
Não é compensar a ausência do outro com a nossa entrega total.
Não é tentar “chegar para dois”.

É criar espaço. É confiar no processo. É reconhecer quando o esforço se transforma em desgaste.

A pergunta já não é:
"Como faço para que o outro se envolva?"
Mas sim:
"Como me preservo, sem deixar de estar presente e inteira no que me compete?"

É aqui que entra a liderança consciente — aquela que sabe cuidar sem se anular, apoiar sem se sobrecarregar, inspirar sem perder o centro.

Se tens sentido que estás a remar contra a maré, talvez não precises de mais força… apenas de reorientar o rumo.

Porque educar — seja em que etapa for — é um ato de presença. E essa presença começa, sempre, por ti.

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Narrativas que Ferem, Escolhas que Curam