Nem Todo o Cansaço Dá Lugar ao Descanso

O ano letivo terminou. Os corredores silenciaram-se, as mochilas foram arrumadas e as crianças e jovens seguem, agora, para as suas férias de verão. Mas este momento — que para muitos simboliza um tempo de pausa — não significa, para todos os agentes educativos, o início de um descanso imediato.
Para muitos educadores e professores, este período é feito de balanços, reuniões de avaliação, formação contínua, preparação de atividades, respostas a solicitações institucionais e, talvez o mais invisível de todos: o esforço silencioso de tentar recuperar o próprio fôlego.

Uma crónica recente publicada no Público questionava o “privilégio” dos professores, referindo-se ao que seriam “três meses de férias” (ler aqui).

É uma ideia recorrente e que, ano após ano, regressa à opinião pública com algum tom de indignação. Mas talvez esteja na hora de contrariar esta narrativa não com dados, mas com empatia e verdade.

Sim, é verdade que há pausas no calendário escolar. Mas descanso é mais do que ausência de aulas. O descanso verdadeiro, aquele que restaura, exige tempo de qualidade, segurança emocional e espaço mental. E isso é raro num sistema onde os profissionais da educação são constantemente chamados a fazer mais — com menos tempo, menos apoio e menos reconhecimento.

Os educadores não desligam ao toque do último sino. Muitos carregam para as férias as histórias difíceis do ano, os alunos que ficaram pelo caminho, os projetos que não se concretizaram. Outros começam a pensar, logo em julho, no que poderiam fazer melhor em setembro. A pausa, quando existe, é muitas vezes usada para cuidar de si à pressa, porque há sempre algo por fechar ou algo por preparar.

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Este texto não é uma queixa. É um apelo à atenção genuína.
Às rotinas que continuam mesmo sem campainhas. Aos corpos que pedem pausa. À dedicação que permanece, mesmo sem reconhecimento imediato. Talvez o verão não seja, para todos, sinónimo de férias. Mas pode, ainda assim, ser um tempo de reconexão com o propósito. E isso, às vezes, é o que mais descansa.

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