No passado dia 11 de setembro, facilitei a conversa “AI in Education: News from the Frontline”, em parceria com o director criativo Yuri Lopes Pereira no Second Home. Este encontro foi mais do que uma partilha sobre o impacto da tecnologia no ensino — foi um espaço de reflexão crítica sobre o presente e o futuro da educação num mundo em transformação acelerada.

Este novo ano letivo arrancou, uma vez mais, com a já conhecida escassez de docentes. Um problema estrutural, que se agrava ano após ano, e que deixa muitas escolas com dificuldades em garantir uma resposta educativa plena. Paralelamente, cresce o entusiasmo — e a inquietação — em torno da Inteligência Artificial (IA) aplicada à educação.

Ferramentas baseadas em IA têm vindo a transformar o modo como se aprende e ensina: desde tutores virtuais a plataformas de aprendizagem adaptativa. 

Contudo, para os profissionais da educação, esta transformação levanta questões profundas. Como integrar estas tecnologias de forma crítica e ética? Como manter a centralidade da relação pedagógica? E como lidar com o sentimento crescente de insegurança quanto ao futuro da profissão?

Na minha intervenção, partilhei aprendizagens resultantes do trabalho com educadores em Portugal e noutros contextos internacionais. Trouxe à conversa os efeitos emocionais e profissionais de um cenário onde tudo parece mudar demasiado depressa, sem tempo para a devida integração.

Um testemunho que me marcou foi o de um educador que afirmou:
"Nunca pensei que uma conversa sobre Inteligência Artificial me levasse a olhar tanto para mim — para as minhas escolhas, para a minha prática e para o meu bem-estar."

Outro educador confessava:
"Não é a IA que me inquieta. É o vazio de sentido que por vezes se instala no nosso trabalho."

A intervenção do Yuri Lopes Pereira trouxe uma perspetiva estratégica e cultural sobre o momento atual. Como fundador da Big Lisbon, apresentou um panorama claro e desafiante sobre os desenvolvimentos mais recentes da IA na educação. Partilhou casos internacionais, plataformas emergentes e modelos pedagógicos que estão a redefinir o modo como se estrutura o conhecimento e a aprendizagem.

A articulação entre as nossas abordagens permitiu um debate rico em pontos de vista, centrado em três eixos fundamentais:

  • Como integrar a IA sem comprometer a dimensão relacional da educação?

  • Como proteger o bem-estar dos profissionais num contexto de exigência crescente?

  • Como garantir que a tecnologia amplifica — e não silencia — a voz de quem educa e aprende?

Sabemos que a Inteligência Artificial não é uma tendência passageira. Veio para ficar. A questão central não é “se” a devemos usar, mas “como” e “ao serviço de quê”. E, sobretudo, quem participa nas decisões que moldam esse caminho.Em plena era tecnológica, defender a educação como um espaço profundamente humano não é resistência ao progresso. É, antes, uma afirmação ética. É recordar que a tecnologia não substitui a escuta, o cuidado, a atenção plena — qualidades essenciais no acto de educar.

Precisamos de criar mais momentos como este. Espaços de reflexão, de escuta ativa, de construção de sentido. Porque, mesmo em tempos de algoritmos e automação, educar continua a ser um gesto radicalmente humano.

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