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Como vemos as crianças nos dias de hoje?

Atualizado: 26 de jun. de 2019

É uma pergunta que todos nós educadores deveríamos fazer e reflectir, pois a forma como vemos a CRIANÇA tem um impacto significativo na maneira como interagimos com ela. Os tempos realmente mudaram e educar a criança de hoje é completamente diferente de há 10, 20 e 30 anos atrás.


Pergunto-me constantemente, porque motivo insistimos em currículos educacionais em que o foco está muito centrado na quantidade de informação que deve ser passada aos alunos e não na forma como esses alunos adquirem esses conhecimentos. Será que estamos a olhar verdadeiramente para a criança como um todo? Principalmente, porque as crianças de hoje não se inibem de nos mostrar que já não funcionam bem em modelos educativos nos quais não têm voz. Não quero de forma alguma passar a ideia que devemos (Escola e Pais) deixar as crianças fazerem tudo o que querem sem orientação, muito pelo contrário, considero fundamental guiar e estimular as nossas crianças a experienciar o Mundo de forma confiante e indagadora, mas para que isso aconteça é necessário que tenham uma ‘voz’ e que sejam respeitadas para que assim respeitem.



Os adultos que as rodeiam sentem que o tempo não é suficiente, o que consequentemente leva a que  os mesmos não tenham tempo para as ouvir, realmente OUVIR. As crianças crescem num mundo em que os ritmos de vida são muito acelerados, em que pouca coisa é feita com tempo e paciência. Sim, Paciência, pois é preciso paciência para acompanhar o ritmo de uma criança e realmente prestar atenção aquilo que ela está a fazer e como se está a desenvolver a nível emocional, social, cognitivo, físico e espiritual. Mas garantidamente quando todos os envolvidos na educação de uma criança param e doam tempo, os resultados são muito compensadores – o bem estar dos nossos filhos, alunos, e criadores de um futuro melhor.


Segundo a filosofia educativa de Reggio Emilia que foi influenciada pelas ideias de Maria Montessori, Jean Piaget, Lev Vygotsky, Paulo Freire e outros, a criança é vista como um ser competente, confiante e corajoso. Visão que partilho, pois uma criança corajosa não tem medo de expressar as suas próprias ideias, de ser independente, curiosa e imaginativa. Tenho consciência de que esta visão pode contrastar com paradigmas há muito vigentes na nossa sociedade, mas os paradigmas devem ser mudados quando algo melhor nos é apresentado e demonstrado. Provoco-o a reflectir com o coração sobre qual é a sua visão da criança? Convido-o a parar e pensar cuidadosamente se essa imagem está ajustada aquilo que observa nos nossos dias. Pare, olhe e escute o que as nossas crianças têm a dizer sobre o mundo á sua volta e como percepcionam a realidade que as rodeia e será surpreendido com a perspicácia dessas observações. Conhecimento sem prática, nada é senão uma farsa, por isso, ponha em prática o que vier a descobrir com estas reflexões que lhe proponho e teste por si mesmo a eficácia das mesmas. Pode ser um cliché, apesar de ser dos melhores que conheço, se desejamos um mundo melhor temos que olhar para as nossas crianças e assumir a nossa responsabilidade ao educa-lás, pois assim contribuímos para um lugar melhor para todos nós.

 

A criança tem cem linguagens Cem mãos cem pensamentos Cem maneiras de pensar De brincar e de falar Cem sempre cem Maneiras de ouvir De surpreender de amar Cem alegrias para cantar e perceber Cem mundos para descobrir Cem mundos para inventar Cem mundos para sonhar. A criança tem Cem linguagens (e mais cem, cem, cem) Mas roubam-lhe noventa e nove Separam-lhe a cabeça do corpo Dizem-lhe: Para pensar sem mãos, para ouvir sem falar Para compreender sem alegria Para amar e para se admirar só no Natal e na Páscoa. Dizem-lhe: Para descobrir o mundo que já existe. E de cem roubam-lhe noventa e nove. Dizem-lhe: Que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia A ciência e a imaginação O céu e a terra, a razão e o sonho São coisas que não estão bem juntas Ou seja, dizem-lhe que os cem não existem. E a criança por sua vez repete: os cem existem!


Loris Malaguzzi (1996)

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